Bem cedo na Kombi branca, a maquina de costura se acomodou. E para a família e a vizinha, pouco espaço sobrou. Mas o pior, chovia. São Pedro tinha decidido que seria assim. E a distância para Guaxima parecia eternidade. A frase histórica soava cômica. É ali, é ali, um ali que não chegava. Porém todo lugar tem seu destino. E tarde, bem tarde, depois de tanta estrada, o lamaçal e a chuva, com efeito, de piorar, agravou o estado da estrada e foi na subida, tiveram todos que descer, menos o pai que condutor do veiculo, lamentava a situação. E que situação, debaixo de chuva, empurrar a Kombi, para ela subir, ou ficar dentro sentado, esperando e atolado. Não tinha opção. Enfim, a casa chegou. O carro alegrou a meninada que estava na porta, aguardando com a mãe, o tesouro que esperavam. Um breve cafezinho no fogão a lenha, o mais difícil estava por acontecer. A porca e o retorno eram o grande desafio. E colocar esta porca suja do chiqueiro, gorda, grande, robusta dentro daquela Kombi, junto de toda família, na estrada muita lama. Chegava a ser inacreditável. A preferência dos filhos – dar a maquina de presente e a porca também que ficasse ali, no chiqueiro – que é o lugar apropriado. Nenhum deles desejava comer carne de porco no Natal.
Porém o pai que ordenava, pega daqui, segura dali, empurra, escorregou. Colocaram uma rampa de madeira, cerne de arvore, do vizinho que também ajudava na proeza. Depois de tantas tentativas, estava a porca dentro da Kombi e o difícil de entrar foi os quatro filhos mais a vizinha ficar perto da porca com os pés levantados sobre o banco, a porca começou a sujar. No chão a imundície esparramou. O cheiro, o odor era impossível. Mosquitos apareceram de um lugar que ninguém viu entrar. Pareciam que vinham de presente, já junto com a porca. Tudo combinava – sujeira, mosquito, porca. Uma mistura perfeita. Como podia um bicho cheirar tão mal. O riso, a ironia, juntos com expressão de espanto, uniram-se. O menosprezo pela aparência da porca, um animal bonito de se ver nos livros de história, que a mãe lia para os filhos na hora de dormir. Transformou em bicho papão. Ninguém queria nem ver. Bastava o cheiro. O desejo imenso de chegar – terra à vista, em casa e o banho tomar e longe da porca, bem longe ficar.
E não esquecer de agradecer pela chuva que parou e que a Kombi ao retornar para cidade não atolou.
O que restou desta história verídica, tão familiar, fez rir e faz até hoje muitos e todos que ouviram contar durante duas décadas. Fica a vontade de narrar e contagiar pelas palavras o que se passou num dia de domingo, com pessoas que adoravam ficar juntas, passear, vibrar, rir ou chorar. Sempre juntos para o que der e vier, porque todos se amavam.
E em todos os Natais, no dia vinte e cinco de dezembro, se a leitoa assada chegar à mesa, não há quem não olhe um para o outro e apesar de todo desprezo, ao admirar, deitada, morta, limpa, bem assada, ninguém deixa de deliciar o prato. Tradição da família. Entre a porca – leitoa, e o peru assado ganha sempre a porca.
E sempre lembrar e rir outra vez. Nada como festejar! Quando acontecer... coisas boas, cômicas.... ou...dar gargalhadas, quantas vezes possíveis....
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